terça-feira, 2 de setembro de 2014

Muros

Encontrei-te aqui a meu lado, onde sempre estiveste.
Foi sem querer, numa tarde destas, quando já te imaginava longe de mim e incapaz de me ouvires.
Há muito que te vi partir. Não te encontrava no abraço, no beijo antes de adormecer, na mesa da cozinha nem tão pouco no canto esquerdo do sofá, onde gostavas de adormecer.
Por mais que te apertasse contra o meu peito, por mais que me beijasses todas as noites, não te sentia e habituei-me a viver assim. Contigo ausente.
Tantas vezes se constroem muros sem razão, onde a presença consegue ser mais vazia do que a ausência de quem se quer. O amor passou a rotina, o desejo a necessidade e as palavras passaram a ser apenas as necessárias. Bom dia. Olá. Não vens jantar? Até amanhã.
O muro cresceu com o tempo, cada vez mais alto. A distância alcançou a imensidão do muro. E as sombras que o muro criou, quando o sol nele batia, foram matando os restos de vida que sobravam. Rasteiros. Vazios. Escuros. Cada vez mais vazios.

Mas hoje, sem querer, encontrei-te novamente onde já não te esperava encontrar: A meu lado. Do outro lado do muro, que agora vamos ter de deitar abaixo...
E eu a imaginar-te longe de mim...

(c) CORBIS

Sem comentários:

Enviar um comentário